terça-feira, outubro 29, 2019

The Long Road...

Por vezes, a velocidade dos dias, o tráfego de pensamentos, ou o ritmo dos meus passos, são mais do que o que consigo aguentar.
Tenho uma bagageira enorme... e dentro dela? Uma alma cheia de cofres de memórias.
A dada altura, tive de rebater bancos, usar os compartimentos escondidos, porque alguns dos viajantes que embarcaram na minha viagem, traziam consigo a bagagem de uma vida e não apenas para as férias que iam fazer com a minha alma. 
Confesso que, a cada mala que tento meter na alma, já custa fechá-la. Chego a duvidar se quero. 
É nestes momentos que tenho a certeza de que a minha alma tem forma de mala de carro; provavelmente de um Mercedes, daqueles antigos e com a traseira retangular, que me permite sentar em cima, para forçar o seu fecho. 
Uma vez de alma fechada, agarro no volante da vida e sigo estrada fora, prego a fundo, sem destino.
Pelo caminho vou deixando malas, algumas minhas, outras não. Outras que me deixaram e nunca me consegui desfazer delas. Quem não carrega bagagem que não lhe pertence? 
São por norma as malas de porão, as mais pesadas. Aquelas que contém as máscaras, as peles de carneiro ornamentadas e que no fim de contas, viram trapos após 12 badaladas - qual Cinderela!
Faço breves paragens, mas tendo sempre em mente que não levarei mais ninguém no lugar do pendura. Ou do morto, como lhe queiram chamar.  
Toda a vida levei pessoas à pendura da alma, até mesmo aquelas que me deveriam ter carregado no colo. Quem nunca fez viagens que excederam limites? De velocidade, de passageiros a bordo ou mesmo de álcool. 
Numa dessas manhãs, onde nos permitimos parar o conta quilómetros para apreciar a paisagem, um estranho pediu-me para abrir a mala.
Sorrindo, pediu-me para não esquecer que ainda há pessoas que nos querem conduzir. 
Sorri-lhe de volta em jeito de agradecimento e segui viagem. De mala ainda trancada, mas de janelas para baixo. 
Traço novas rotas no mapa da vida, o meu. Desenho circunferências nas estradas que ainda quero descobrir, coloco post-its nos atalhos por onde eventualmente valerá a pena perder-me. Espero que, um dia, nessas áreas de serviço manhosas à face da estrada, encontre alguém que me carregue as minhas malas, as deite fora e siga a pé, comigo, de mão dada, estrada fora.

E se hoje eu fosse uma música, seria...