Talvez por isso, este inverno, cinzento e chuvoso, por dentro e por fora, baixei a guarda e dei a mão ao cigarro.
A chuva tornou-se na banda sonora perfeita, o cigarro deu os dois dedos de conversa necessários para que abraçasse o café, seguido do Porto de quem fiz casa e companheiro.
Não houve vento que levasse para longe o fumo que se prendeu em mim.
Nem eu quis que voasse. Entranhou-se, qual cancro.
Silencioso e severo. Fatal, como qualquer vício que já nasceu condenado.
Quis saber ao que sabe a tua boca. Ao que cheiram as tuas mãos. Encontrei o cheiro preso nos teus casacos. Adivinhei ao que cheira o teu cabelo, misturado com a essência dos teus shampoos.
Procurei-te. Procuro. Não encontro.
Mas resta-me o cigarro em que fecho os dedos da minha mão, como se da tua se tratasse. O Porto que me tolda os sentidos. Vejo-te esfumar.
Queria dizer-te que te espero sem te esperar, sem esperanças de quem aguarda. Pelo amanhã ou pela cura.
Espero-te mas não como quem acredita... Porque todos os dias me obrigo a desacreditar-te. E já só existes entre álcool e tabaco.
Fumo-te até que te evapores, porque um dia, pego em ti, qual cigarro e apago-te, de vez, da história dos meus vícios.
Fumar provoca cancro... E este foi o meu último maço.
Sem comentários:
Enviar um comentário