quarta-feira, janeiro 29, 2020

Tabaco de encaixar

Há peças que não encaixam e, mesmo eu, que tenho um poder de encaixe ao nível de jogos de cintura vertiginosos, acreditava que  o tabaco não encaixava com o Verão. 
Talvez por isso, este inverno, cinzento e chuvoso, por dentro e por fora, baixei a guarda e dei a mão ao cigarro. 


A chuva tornou-se na banda sonora perfeita, o cigarro deu os dois dedos de conversa necessários para que abraçasse o café, seguido do Porto de quem fiz casa e companheiro.
Não houve vento que levasse para longe o fumo que se prendeu em mim.
Nem eu quis que voasse. Entranhou-se, qual cancro.
Silencioso e severo. Fatal, como qualquer vício que já nasceu condenado.
Quis saber ao que sabe a tua boca. Ao que cheiram as tuas mãos. Encontrei o cheiro preso nos teus casacos. Adivinhei ao que cheira o teu cabelo, misturado com a essência dos teus shampoos.  
Procurei-te. Procuro. Não encontro. 
Mas resta-me o cigarro em que fecho os dedos da minha mão, como se da tua se tratasse. O Porto que me tolda os sentidos. Vejo-te esfumar.
Queria dizer-te que te espero sem te esperar, sem esperanças de quem aguarda. Pelo amanhã ou pela cura.
Espero-te mas não como quem acredita... Porque todos os dias me obrigo a desacreditar-te. E já só existes entre álcool e tabaco. 
Fumo-te até que te evapores, porque um dia, pego em ti, qual cigarro e apago-te, de vez, da história dos meus vícios.
Fumar provoca cancro... E este foi o meu último maço. 

Sem comentários: