domingo, dezembro 29, 2013

Palavras para a minha mãe.

"Mãe, tenho pena. esperei sempre que entendesses as palavras que nunca disse e os gestos que nunca fiz.

Sei hoje que apenas esperei, mãe, e esperar não é suficiente.
pelas palavras que nunca disse, pelos gestos que me pediste tanto e eu nunca fui capaz de fazer, quero pedir-te desculpa, mãe, e sei que pedir desculpa não é suficiente.

às vezes, quero dizer-te tantas coisas que não consigo, a fotografia em que estou ao teu colo é a fotografia mais bonita que tenho, gosto de quando estás feliz.

lê isto: mãe, amo-te.

eu sei e tu sabes que poderei sempre fingir que não escrevi estas palavras, sim, mãe, hei-de fingir que não escrevi estas palavras, e tu hás-de fingir que não as leste, somos assim, mãe, mas eu sei e tu sabes."

José Luís Peixoto

sábado, dezembro 28, 2013

Tudo e nada.

É antes de um novo ano começar que finalmente compreendo que temos de perder tudo, para começarmos a ganhar.
Temos de não ter nada. Porque o nada passará a ser tudo o que temos. 
E quando não há nada a perder, há tudo para ganhar.
É preciso perder pessoas...
É preciso perder amizades...
Empregos.
Dinheiro.
Objectos.
É preciso ficar sem nada para se ser livre para ganhar tudo.
Para começar de novo.
É preciso gastar palavras... Até se ficar sem elas, até não haver nada a perder por as dizermos.
É preciso sentir-se só para saber que já se teve companhia.
É preciso perder do nosso tempo, para se ganhar tempo futuro.
É preciso não ter nada, para ter tudo. E quando tudo o que temos é nada, qualquer sopro de vida é tudo. 
Welcome a board 2014.

sábado, dezembro 21, 2013

Um ano após outro...

21 de Dezembro de 2012.
Há exactamente um ano atrás a minha vida era tão diferente. Tanto, que quase parece que não foi minha.
Estava desempregada.
Estava noutra cidade.
Estava com quem queria estar.
Estava feliz.
Hoje, estou noutro caminho, com um emprego... E com um vazio. 
Não estou com quem queria estar. Não estou infeliz mas sinto uma certa ausência de felicidade.
Nunca se pode ter tudo, e um ano após outro, vou tendo tudo, e nada... 
Vou resistindo, vou ganhando.
Vou-me perdendo, e encontrando.

quarta-feira, novembro 27, 2013

Como quando era pequenina...

Partilhávamos uma manta no sofá, quando os seus olhos cor de avelã me fitaram e perguntaram: "Lily, ainda gostas de mim como quando eu era pequenina e pegavas em mim ao colo?"
Puxei-a para mim, sentei-a no meu colo e colei os meus olhos nos seus.
"Não só gosto de ti como quando eras pequenina, mas gosto muito mais. Tal como tu cresces todos os dias, também o meu amor por ti cresce. É incondicional.
Vais ser velhinha, e eu também, e eu ainda vou gostar de ti, não só como quando pegava em ti ao colo, mas muito mais... Ainda pego em ti ao colo querida, mas quando já não conseguir fazê-lo, vou carregar-te sempre no coração, sim?"
Ela encostou a cabeça no meu ombro e assentiu.
"Sabes, também gosto de ti, desde que era pequenina, agora já sou grande, ainda vou ser mais, mas vou sempre gostar."

segunda-feira, novembro 25, 2013

Outros tempos

Acordei com uma ressaca de nostalgia, e tudo o que sinto são dores de saudades em mim. Pouco me lembro do que aconteceu, à excepção de todas as memórias cravadas na pele, todos os sorrisos sublinhados nos lábios e todas as felicidades tatuadas no coração.
Passou tanto tempo, o relógio deu tantas voltas, a hora já mudou duas vezes, o que significa que voltamos ao mesmo... Tempo.
E assim me sinto, parada no tempo. No que foi meu... E nem todo o tempo do mundo é suficiente para apagar esse tempo, para o esquecer... 
Falta-me o tempo e a vontade de viver noutros tempos... Pois tudo o que trago em mim são saudades, de ter saudades de uma outra coisa, como tenho desse tempo... Saudades. 

quinta-feira, outubro 24, 2013

Tocar.


"Há pessoas que nos tocam assim", foi o título que lhe quis dar porque de facto me tocou. 
Há pessoas que nos tocam como se um instrumento fossemos. Digo um instrumento, não um objecto, porém, ha também quem nos toque como tal. 
Ha pessoas que nos tocam como quem toca violoncelo, fazem música no nosso corpo, tocando nas cordas da nossa alma.


Outras que nos tocam como quem toca piano; nunca nos é indiferente.
Quem nos toque e nem sentimos... E aqueles que fariam de tudo para nos poderem tocar...
Aqueles em quem sonhamos poder tocar... E os que são insensíveis ao toque...
Há quem fique tocado do vinho e quem nunca lhe toque.
Há quem se toque, ou nunca se toque de todo.
Há toques de leve, há toques de se fazer sentir... E há quem fique touché. 
Há quem fale como se tocasse... Quem toque como se falasse... Há quem se faça sentir sem nunca tocar.
Toquei-te?

segunda-feira, outubro 21, 2013

20 segundos

E se hoje eu tivesse 20 segundos de coragem insana... 
Diria uns quantos "adoro-te". Uns "não sonhas o quanto te quero bem". 
Uns tantos "desculpa". 
Faria um pedido de perdão.
Falaria das saudades que sinto.
Mandava alguns "para o caralho".
Sorria desmedidamente.
Compraria o primeiro bilhete sem destino mas que sei exactamente onde me levaria. E eventualmente voltaria à minha sanidade insana... Porque provavelmente já teriam passado 20 segundos.

domingo, outubro 20, 2013

Where have you been, Liliana?

Tinha saudades de conduzir. De domingos. De pessoas. Do mar. De pequenos-almoços despreocupados. Do sol na cara. De frio no nariz. De fotografar. De ler junto ao mar. De sorrir. Sobretudo de ficar descabeladamente feliz. 

"Where have you been, Liliana?"

sábado, outubro 19, 2013

Conversas de sofá

Hoje eu tiraria um tempo para ser completamente honesta.
Sentar-me-ia num fim de tarde qualquer e afundaria no meu sofá.
Fumaria daquele tabaco que nunca fumo, beberia o melhor vinho, a meia luz, com o copo numa mão, com o cigarro a queimar na outra. Até que a cinza caísse. Até que me queimasse.
Que ardesse por fora como queima por dentro...
Gastaria todo o tempo que lhe devo só com ela, assim, apenas afundada. A ouvir o silêncio, a saborear o vinho, a fumar o nada.
Falar-lhe-ia muito provavelmente do peso dos últimos meses, das tempestades do ultimo ano... Mas, não podia deixar de lhe contar sobre o sol dos últimos dias.
Diria que todo o desgaste ficava ali enterrado agora naquele sofá...
Todo o sofrimento ficava afogado naquele vinho...
Todas as mágoas se esfumavam com aquele tabaco.
Quando me levantasse seria da minha altura, dos meus feitos... Das minhas vitórias...
Contar-lhe-ia que olho para a minha vida e digo que fui eu que a construí... Falhei e repeti.
Levantar-me-ia com um sorriso nas mãos e com humildade no rosto, dando mais um passo em frente no caminho que é o meu... O que eu escolhi.

quarta-feira, outubro 16, 2013

(Un)Lock

Tenho para mim que há musicas que são desbloqueadores de conversa... E que há músicas que não são músicas. São momentos. São pessoas.
Ha músicas que são máquinas de tempo.
Que nos levam ao passado... Que o desbloqueiam dos confins das memórias e cada acorde traz um tom mais agudo de saudades.
Ha músicas que desbloqueiam lágrimas.
Que destravam memórias. 
E depois existem músicas que apenas tocam na caixa de música do nosso coração... Mas quando a corda acaba, a tampa fecha-se. A música pára...
As saudades desaparecem... E as memórias voltam a apagar-se...


"...In this world 
Where nothing else is true 
Here I am
Still tangled up in you..."



[stop. Até que a volte a ouvir, num fim de dia qualquer...] 

quarta-feira, outubro 09, 2013

Cedências

Todos somos donos de "guilty pleasures", chamamo-lhes assim, mas na verdade não há porque nos sentirmos culpados... Se gostamos, gostamos, e ponto.
Partilhei do teu. Uma e outra vez. Ouvi-a vezes sem conta...
E sabes o que ficou!?
Que não temos de ceder lugares...
A vida não é um comboio... O nosso coração muito menos. 
Pelo menos não cedo o meu a nenhuma grávida, nenhum idoso, nem a nenhum deficiente... Bom, creio que em alturas da minha vida já o possa ter feito...
Mas há dias, em conversa com o LM, reti que as pessoas andam todas feitas umas com as outras para nos magoar... Todas. Por isso, não cedo lugares a quem quer que mereça... Porque ninguém é merecedor de, se vem com o propósito de magoar.
E tu devias fazer o mesmo... 
Não cedas o teu lugar... Quando achares que alguém merece, senta-te e fica... Deixa que fique. Não deixes que vá.
E tu que dizes que as minhas palavras parecem olhar sempre para quem as lê, hoje é para ti que escrevo... É para ti e por ti que olho...
Porque no código da estrada da vida, faço sempre cedência de passagem às pessoas que cuido, para que não haja choque... E que não as magoe, não me magoando também. 

segunda-feira, outubro 07, 2013

Lavagem d'Alma

Ela traz o corpo cheio de marcas do dia. Sinais de cansaço, manchas de suor... Marcas da roupa já amarrotada que se cola ao corpo, parece quase parte de si mesma...
Traz em si o cansaço dos sonhos e da realidade do dia. 
Despe todas as roupas como quem se despe e despede de outra pessoa, de quem se mascarou todas as horas.
Despe o sorriso postiço, deixa no cabide o fardo que carrega, e tira as lentes da cor da sociedade... 
A água de rosas leva um resto de maquilhagem deixando o aroma real aos espinhos que ela sente.
Os seus olhos cruzam-se com os do outro lado do espelho antes de entrar na banheira.
É nesse instante em que a água tépida lhe humedece os cabelos, a pele e qualquer resto de alma, que ela se sente enfim Ela.. 
É debaixo daquele chuveiro que ela encontra o calor e o aconchego da água que abraça. Que conforta.
Despida de tudo, vestida de nada.
É aquela água que lhe limpa o corpo, que lhe leva as células mortas e atenua as mágoas.
As lágrimas do chuveiro confundem-se com as águas dos olhos, percorrem o corpo, misturam-se, e ambas terminam no chão.

domingo, outubro 06, 2013

Leave...

"And I promised to myself that tonight would be the last night that I would lay down and cry... At least for someone who does not deserve my fucking tears.
Because it hurts like hell inside, and it's harder for me to breath... It is impossible for me to sleep... 
Please, just leave. Don't look Back... I won't be here any longer...
No, don't leave. I leave. 
I will leave in the first place.
There is no place for me here. I wonder why am I still here writting down this fucking words that you will never see...
I guess I must write them... Before I leave. 
Before I leave you...
Before I reborn."

Mas não.
Não foi de longe a última noite em que ela não adormeceu de cara e almofada enxuta.
Não foi essa a noite em que ela partiu... Creio que ela ainda lá está...
Não terá sido a última noite em que ela adormeceu sentindo que tinha coração, porque lhe doía. 
A noite em que ela foi embora, foi a noite em que o sol ainda não nasceu para dar vida a esse dia, que terá essa noite... Em que ela irá embora. 
Em que baterá toda as portas dentro de si, e ficará de fora.

segunda-feira, setembro 30, 2013

Espera...!

Saber esperar é uma virtude. É sinónimo de paciência. É uma ânsia que sabe ser acalmada... É um saber o que se quer, porque se espera...
Mas há esperar, saber esperar e há esperas.
Sempre tive paciência...
Sempre esperei... Muitas vezes.
Esperei horas... Contei minutos. Adormeci ao som dos segundos do relógio.
Esperei de sol a sol para que outro sol nascesse atrás de outro. 
Sentei-me em estações de comboios, à espera do atrasado...
Do comboio de carga... De emoções.
Do foguete...
E daquele que nunca vem...
Esperei... Sempre esperei que ele viesse...
Sempre espero.
Sou mestre na arte de esperar.
Espero demasiado.
Das pessoas...
Mas espera.
Espero que sempre se lembrem, quanto as lembro.
Espero que se preocupem...
Espero que não se esqueçam...
Espero que nunca façam o que nao teria coragem de lhes fazer...
Mas espero tão mal.
Também espero que se fodam.
Cansei-me de esperar... 

segunda-feira, setembro 23, 2013

Devaneios

As insónias são sempre sinónimo de inquietação dizem os entendidos, ou dizem-se eles entendidos... Hoje poderei dizer o mesmo também.
Insónia é um desassossego, na alma... No coração. E se eu tiver algum dos dois, creio que algo me atormenta ambos, simultaneamente.
Conto as horas...
Ouço o tic-tac estridente do relógio e da máquina infernal que bate dentro de mim descompassadamente.
Adormeço.
Acordo com cães a ferrarem-me as entranhas, ou pelo menos sinto-os como tal... Com o rosto a queimar. No meu pesadelo ardi em chamas, mas são gotas salgadas que me queimam agora.
Agarro o ventre em posição fetal e volto a adormecer.
O despertador toca.
O corpo move-se quase de forma mecânica mas todos os pensamentos continuam a dormir. 
Todos os sentimentos hibernaram...
Trabalho a um ritmo que eu própria desconheço, movida pelo conhecimento já alienado do que faço, porque se me perguntam o que fiz hoje, já esqueci.
Volto a casa onde me reencontro com a alma que deixei na cama... Deito-me na esperança que ela se volte a unir com o meu corpo.

quinta-feira, setembro 19, 2013

De hoje, para sempre.

E o que levo do dia de hoje é que sempre dou muitas oportunidades para que me surpreendam... E apenas uma para que me desiludam. 

domingo, setembro 15, 2013

(des)Iludir

A RM algum dia me disse daquela mesa de cozinha que um dia chegou a ser nossa, enquanto tomávamos o pequeno-almoço num início de dia qualquer: "A culpa é sua fique sabendo." - disse ela com o seu sotaque brasileiro mas num tom sério que me deixava adivinhar que o que vinha eram palavras que eu levaria comigo quando deixasse aquela mesa, aquelas paredes, aquela casa... A faculdade ou mesmo aquela cidade. Sabia que aquelas palavras iam comigo para a vida. E assim foi...
Continuou: "A culpa dessa desilusão é toda sua. 'Cê sabe que quando gosta muito de alguém, você acaba pensando que essa pessoa vai agir sempre de igual para igual. Você gosta tanto que acaba criando uma expectativa alta na outra pessoa... Nunca ninguém prometeu que iria ser assim, mas você fica pensando que o facto de você estar lá sempre, que o facto de você gostar tanto, de você fazer tanto bem, nunca pensa que a outra pessoa possa fazer de outro jeito que não a mesma coisa para você. 'Tá vendo Lili?...  A culpa é sua. Você se ilude com seus pensamentos, é traída por eles... E acaba desiludida com seus sentimentos."
Levantei-me e pensei sobre isto... Remoí.  Mudei de casa... De cidade...
Passaram-se anos.
RM, enquanto escrevo pergunto-me o que pensarias tu se soubesses que após tantos anos, continuo a recordar-me das tuas palavras e a dar-te toda a razão do mundo, mas continuo a agir igual!?
Continuo a iludir-me... E a desiludir-me.
Continuo a criar expectativas e a destruí-las.
O que dirias tu RM?...
Desiludo-me acima de tudo com o facto de me desiludir... Ou de me iludir. Porque este ciclo vicioso é como uma teia de onde tentas fugir... Mas acabas sempre preso.
Por muito curto que seja, o sabor da falsa ilusão é sempre demasiado bom para ficar sem ele... E eu teimo em acreditar que um dia é diferente, continuo a acreditar nas pessoas... Esquecendo que existem más e escassam as boas.


[June 2013]

quarta-feira, setembro 11, 2013

Nada vale.

Sabes que não vale a pena varrer o chão e muito menos esconder o lixo debaixo do tapete.
Não vale a pena esfregar o soalho... Nem tão pouco levantar tacos. 
Não adianta pintar paredes, nem sequer colar papel de parede.
É em vão mudar cortinas, colocar portadas...
De nada vale...
Até ao dia em que acordares a sentir que as paredes já são diferentes.
Foram deitadas abaixo, construíram-se outras...
Que o chão foi colocado de novo. Com tijoleira anti-derrapante.
Que as janelas se abriram, e os seus vidros não são mais martelados.
Não adianta nem mudar de casa, enquanto os teus alicerces pertencerem a outra morada.

[mês 07 de 13]

terça-feira, setembro 10, 2013

Feliz acaso...

Hoje, olhei para ti por acaso, reencontrei-te por acaso...
Daqueles felizes acasos do destino. 
Acenaste e sorriste ao ver-me... 
Passou algum tempo, mas já não lembro quanto...
Já quase não me lembrava das linhas que contrais, do sorriso rasgado e sentido que desenhas quando os teus lábios se esticam ao forma-lo.
Não me lembrava de sorrires assim já há algum tempo quando me vias... Mas hoje iluminaste-me... Iluminaste-te. Ele iluminou-nos. 
Amanhã encontro-te novamente? À mesma hora? 

No espelho?...

Sorri, e virei costas... Abraçando um novo dia. Sorrindo... 


[01 July 13]

terça-feira, agosto 13, 2013

Ruínas

Hoje passei e já não estavas... 
Já sabia que não estavas mas não consegui deixar de sentir o aperto.
Talvez por não saber onde estavas. 
Não, tenho quase a certeza que sei. Mas talvez por não saber como estavas.
Acho que prefiro não saber. Mas não consigo deixar de me importar.
Foste embora...
Tu, que um dia tiveste tudo...
Tiveste um castelo, o teu castelo. Que um dia foi meu também.
Levaste-o à ruína. Quase me levaste também...
Mas ergueste uma pequena casa... E se Lar é onde o nosso coração está, desculpa, mas só posso chamar a essas paredes e telhados de casa.
Agora nem casa tens.
Arruinaste outra...
E agora onde estás?
Creio que entre uns blocos de cimento, uma porta e uma janela que um dia construímos enquanto tínhamos o castelo...
Aquilo que eram os arrumos hoje é o teu albergue.
Quanto tempo precisas até o arruinares também? 
Até acabares de te arruinar?
Tenho medo da degradação que trazes contigo, da devastação que espalhas onde passas... 
Do que absorves de quem te rodeia.
Da forma como estás tao arruinadamente só.
Eu estive aqui, aí, contigo, sempre... Demasiado tempo.
Mas agora é tarde. O comboio partiu, e tu não saltaste a tempo.
O barco afundou e levou-te com ele...
O nosso castelo incendiou-se e tu deixaste que ardesse. 
Deixaste que me queimasse, te queimasse... 
Deixaste que ruísse. 
Deixaste. 
E hoje sou eu que te deixo...
Boa sorte. 

quarta-feira, julho 24, 2013

Run Lilly Run

Sabia que tinha de ir lá. Já estava marcado há três semanas.
Caminhava, em passo apressado, olhava os ponteiros e andavam ainda mais depressa do que o que conseguia acompanhar. Estava atrasada. Como sempre. 
Mas na alma, não tinha pressa. 
Pisava o chão a passos largos, em frente, e o coração puxava-me para trás.
Queria de ir. Tinha de ir. Mas não queria.
50 metros.
Tinha medo que estivesse lá. Que me visse. Que me falasse. Que lhe dissessem que me viram. 
Tão perto e... tão perto. Desejava que fosse longe.
Porta com Porta.
Tinha de passar em frente a ela. 
Não quis olhar. Passei, os meus pés não tocaram o chão. Ou nem senti.
Passei. 
Não queria olhar. Não queria ver. Não queria sequer saber se estava.
Mas se tiver de ver, que seja até ficar cega... 
Olhei.
Vi. 
Ceguei.
Estava lá. 
Em milésimos de segundo reconheci a silhueta, o olhar deturpado... A roupa até, talvez.
Milésimos de segundos e gelei.
Cheguei ao meu destino. 
Fiquei de pé, talvez 2 minutos que duraram 2 horas. 
As minhas mãos secaram, e molharam. 
Tive calor. Tive frio. 
Olhei para trás. 
Ouvi barulhos. 
Vi sombras. 
Não consegui deixar de olhar para trás. 
Ouvi vozes.
Vi pessoas. Todas elas se pareciam contigo.
Senti medo. Terror. Que me encontrasses. 
Fugi. 
O meu coração fugiu do sítio, o ar saiu dos pulmões e não regressou mais. 
Alguém que eu não via esganava-me. Senti. 
Fugi. Corri. 
Fiz outro caminho... 
Tinha lágrimas a queimarem-me os olhos, a brotarem das entranhas... 
Tive medo. Pânico. 
Não sabia que tinha medo de ti... 
Nunca tive... 
Não sei onde foi que me perdi...
Mas onde quer que eu me encontre, não te quero encontrar.

quinta-feira, julho 11, 2013

Chuva...

Tenho para mim que quando elas "apenas" caem, não conta.
É como a chuva que cai do céu, silenciosamente... Especialmente aquela morrinha, que quase somos incapazes de dizer que está a chover, porque na verdade quase nem conseguimos chamar-lhe chuva.
Apenas conta quando é daquela que bate no chão com força, aquela que cai lá fora e ouvimos da cama...
Aquela que vem acompanhada de trovoada aos soluços... E até mesmo aquela que é tão gelada que se transforma em pedras de gelo.
Também não podemos dizer que conta quando uma torneira pinga...
Ninguém enche um copo às pingas... Nem os meios cheios.
Por isso atrevo-me a dizer que estas gotas salgadas não contam... Porque não são acompanhadas de trovoadas de emoções, nem sequer tem pedras que precisem cair... 
Não fazem barulho.
Donde elas vem há silencio e não ha luz... E elas permanecem assim.
Apenas caem. 
Caem delineando rostos, deixam o seu rasto... Escrevem pelo meu rosto, e chegam às minhas mãos... Mas nada me dizem, porque descem para o vazio... Tao vazio como o sítio de onde vieram.
Podia chamar-lhe orvalho mas... Os meus olhos não são nuvens e nem os meus pés lá andam.


segunda-feira, julho 08, 2013

Quase... Quase.

I just wanna let you know...

“...It takes everything in me not to call you. 
I wish I could run to you...
And I hope you know that every time I don’t, I almost do..."

And if you are thinking that I am writting about you... I do.


quinta-feira, julho 04, 2013

Apodrecer...

"Quero apodrecer contigo". 
Ridiculamente sentido, intenso e suave. 
Hoje desenho este apodrecer quando vejo mãos, enrugadas, mas ainda assim, dadas. Como se fosse a primeira vez, o primeiro toque, na primeira semana.
Quando vejo braços, ja frágeis, que são a muleta do outro.
Quando vejo alianças que não se usam nos dedos mas que vão ficar unidas por toda a vida, e depois dela. 
Quando vejo olhos delineados com linhas de tempo, mas sem sombras, senão de carinho que olham o outro, que olham pelo outro...
Quando vejo que a idade passa, a vida muda, as pessoas mudam...
Mas os sentimentos mantém-se... Até ao último  suspiro... Até mesmo depois dos corações apodrecerem... 
Até mesmo depois de tudo se ir, e ainda se respirar o amor que eles deixaram...
Pois as memórias tornam-os eternos... E o "quero apodrecer contigo" também.

terça-feira, junho 18, 2013

Pequerrucha

Podia escolher mil palavras para a definir, mas a Pequerrucha é "inmessionante".
Não preciso de "florear" as minhas palavras, ela olharia para mim de lado se o fizesse, não gosta dessas coisas, nem na roupa. 
No que diz respeito a plantas, é outra história.
Para falar dela, é preciso ser simples, não sabe ela ser de outro jeito. É pragmática, racional e objectiva. 
Fala com as letras todas, e mesmo sem falar alto, ela sempre se faz ouvir. 
E as suas gargalhas? São sempre envolvidas em doçura. Uma doçura ainda inocente, apesar da sua maturidade.
Tem brilho inato, que se faz notar, sem se esforçar para isso.
Tem toda a humildade, apesar do seu orgulho. 
É rebelde... Traquina e contagiante na sua alegria.
Das almas mais inteligentes que conheço, e tem o mundo na palma da mão quando fala nas coisas em que acredita.
Faz-me acreditar também.
Por vezes acorda-me, lembra-me de quem eu sou... Inverte os papéis. 
Ela nao é so a "Pequena" que olha para mim, ela olha por mim todos os dias...
Ela é enorme e em nada tem que ver com a sua altura.
Tem uma caixinha no peito. 
Não poderia falar do seu coração sem falar na sua caixa...
Uma caixa orgulhosamente forte, orgulhosamente dura... Quase inquebrável.
Raramente sabe das chaves dela, mas quando faz as honras da caixa, é a melhor anfitriã. 
Tem todo um mundo de carinho que brota de si, que se transmite em sorrisos, olhares e silêncios.
Não é dada a palavras com açúcar nem a afectos, mas os seus gestos falam por si...
A partilha dos sorrisos, dos sonhos, do pão e da água e até mesmo das gotas salgadas, falam por nós, mas hoje não queria deixar de dizer o quanto gosto de ti.

E agora já disse.


Com carinho,

Lilly.      



...Abre-lhe o teu coração, e o dela será teu por toda a vida...


domingo, junho 16, 2013

Bom dia

Por vezes custa-nos abrir os olhos, mas depois de o fazer, é como acordar pela manhã...
Todos estamos preparados para viver na Luz, mas nunca ninguém disse que não custa correr os estores e que o primeiros raios de Sol não ferem a visão. Alguém disse?

Despertei, com algumas dores nos olhos, porque o que vejo queima-me a alma, mas nem por isso desviei o olhar, uma vez que fosse. Não uso óculos de Sol, nem nada que filtre a realidade, se tiver de ver, que seja até ficar cega...

Sou um ser de Luz, nasci para viver nela, e hoje faço questão de abrir as janelas da minha casa, dos meus olhos, da minha alma e da minha vida para ver o Sol brilhar. De novo. Com a esperança de quem acredita que vale a pena estar acordada entre o nascer e o pôr-do-sol, assistindo a tudo o que acontece.
Bom Dia.

sábado, junho 15, 2013

terça-feira, junho 11, 2013

Alturas?

Sempre gostei das alturas.
De sonhar alto.
De pensar em grande...
Nunca tive vertigens.

E como podem existir pessoas tão pequenas que não são nem da sua altura...?

É tudo uma questão de... Medidas.

Ou de épocas, com e sem alturas do ano.

Ou são apenas devaneios. Sem tamanho, sem medida. Apenas são.

domingo, junho 09, 2013

Home is...

Eu sabia que um dia ia embora.
Que um dia acordava e já não estavas aqui. Nem eu.
Que aqui não era mais a tua casa... Nem a minha.
Minha, talvez vá ser sempre...
Mas, não moras mais dentro de mim.
"Avisei-te."
Tal como me avisei a mim.
Quase te expulsei, tenho consciência, sim.
Foste embora e deixaste as tuas coisas. Memórias e frases soltas pelo chão.
Tropecei em ti em cada canto, em cada caco.
O teu perfume ainda vagueia pela casa mas fiz questão de abrir as janelas da minha alma.
Sacudi os tapetes, queimei os lençois e lavei-te dos meus cabelos.
Tirei de mim o peso que fazias nos meus ombros.
Tirei a maquilhagem que me camuflava o olhar. Uns olhos tristes podem ser tristes que ainda assim são bonitos, se o que houver neles for sincero.
Descalcei os saltos altos em que me punhas a alma. Sabes que hoje tenho os pés no chão e sou da mesma altura?
Rasguei as folhas dos livros de memórias. Os dos sonhos também; não quero nem reciclar.
Parti copos; não há nada mais a que possamos brindar.
Esfreguei até ao ultimo fôlego as tuas pégadas dos meus chãos.
Ou dos que costumavam ser meus...
Porque aquela não é mais a tua casa... Nem nossa. Nem tão pouco a minha.
Apenas a minha alma é minha, e o meu coração, um dia, apenas foi o teu albergue.

"Home is where your soul is."

quinta-feira, junho 06, 2013

Cheers

A vida deu-me uma garrafa. Enchi-lhe o copo e partilhamos.
Fizemos planos, rimos e brindamos.
Mesmo bêbeda, insisti em ser eu a conduzi-la, pois ninguém conhece melhor os meus caminhos, apesar das estradas serem dela, vida.

quarta-feira, junho 05, 2013

Dormente

Hoje vou adormecer pensando que o MM tinha razão.
A parte mais difícil não é fazer malas, não é bater portas, nem tão pouco ir embora...
A parte difícil?
É não olhar para trás.
É colar os olhos na frente...
Levantar o queixo...
É contrariar a tendência de olhar o vazio e recordar em flashes de memória o que costumava estar naquele lugar...
É esse vazio que mata, que dói e enlouquece...
Outras vezes, nem é o vazio...
São as sombras no vazio. As que ficam.
As que dançam pelas paredes, e correm na sombra.
Umas vezes uns passos à frente, outras, uns atrás, nas memórias.
Outras como se estivessem lado a lado com a saudade.
E elas chamam por nós.
Chamam pelo nome.
E amarram-nos pelo coração.
Consegues não olhar quando dizem o teu nome?
Consegues ficar indiferente?
E quando ouves o eco da tua própria voz quando o pronuncias o teu nome?...
Sabes o quanto custa fingir?...
Não ouvir...
Não reconhecer...
Fingir que nem sequer importa?...
Custa...
Custa tanto como as palavras que eu gostava de dizer e não posso...
O orgulho que eu gostava de engolir e não consigo...
As saudades que eu não queria sentir e cultivo.
O carinho que eu não queria brotar e continua a crescer.
O silêncio que eu queria quebrar e alimento...
Os juízos de valor que eu abomino e faço sem querer.
As memórias que eu queria apagar e sublinho.
O que eu procuro esquecer e só me encontro quando recordo...
O que eu queria abraçar e afasto...
O que eu queria dizer e escrevo...
O que eu queria escrever e afogo...
Os sonhos que eu queria sonhar...
E os que eu queria viver...
O que eu queria ouvir...
O que eu queria ver e quase cego...
O que eu queria mostrar e escondo...
O que eu queria dormir, e nunca consigo adormecer.
Porque não há melodias que não embalem sentimentos, que não despertem emoções, e que não sussurrem "boa noite" como quem chama por mim.

quarta-feira, maio 29, 2013

Pedaços de Alma

Almas que fariam toda diferença, existem.
Pessoas que brilham por si só, que tem a chama, que tem o brilho, que tem sempre o sorriso como forma habitual de expressão.
Existem.
Tenho uma pessoa dessas na minha vida, que hoje tem a alma aos pedaços. Sei, porque a minha chorou com ela. Creio que elas se falam todos os dias porque somos sempre os mesmos, independentemente das vezes que o sol se deite e levante, sem nos falarmos na verdade...
Mas sinto saudades, muitas vezes, e sinto muitas.
Fazes falta na minha vida...
Fazem-me falta aquelas noites na conversa até de manhã, na partilha dos sorrisos, das palavras, dos sonhos mas acima de tudo, na partilha das forças. 
Da dor, das lágrimas, das angústias. 
Na partilha da Luz, sempre tivemos tanta para dar um ao outro.
Lembras-te?
Lembras dos textos? 
Das músicas... 
De como me ensinaste a ligar o carro?... 
Das nossas receitas... 
Dos planos... 
Das ambições...


E esta pulseira, lembras?  
Trago-te sempre nela, e trago-a tantas vezes comigo.
Estás sempre lá M. Sempre. 


Lembro-me de ti tantas vezes. Falo em ti tanta vez, e sinto sempre o mesmo carinho. 
Só faltou termos nascido da mesma barriga, mas "As Guerreiras" são ambas perfeitas. 
Lembro-me daquela tarde de Janeiro em que nos recebemos com um abraço, e tenho a certeza que dali ao último suspiro, te estarei a abraçar a vida inteira.


Não tenho mais do que palavras para te dar, e mesmo elas nunca disseram nada a ninguém...
Mas hoje, eu quero estar aqui, mais do que nos outros dias, porque acredito que a vida um dia tem de ser generosa contigo... 
Venho de sorriso no coração e de coragem nos lábios, pedir:
Peço que amanhã não abras mão da Fé.
Quero que amanhã ou daqui a 5 anos estejas de queixo erguido, porque tu és do melhor que já se pintou na tela da vida.
Sabes quantos no teu lugar teriam desistido?... 
Sabes que depois desta tempestade toda ainda continuas a ser das pessoas mais dignas que eu conheço? 
Apesar da escuridão dos dias, tu continuas a ser a Luz em muitas vidas? Também na minha.
És um exemplo... Para tantas almas, também para a minha.
Inspiras-nos, M.
Orgulho-me da tua teimosia. 
Por favor continua a sê-lo.
E teima sempre em levantar-te, sozinho, porque sei que no dia em que estiveres de pé, vais ainda ajudar a levantar os que estão no chão contigo. 
E não há nada mais Nobre...
Enquanto Homem, enquanto Amigo, enquanto Ser, ser digno do chão que pisas, do Ar que respiras.
Digno do teu nome. 
És tu, M. 
E hoje, por tudo, só peço que não esqueças de quem foste... De quem és, e de quem eu sei que nunca vais deixar de Ser. Porque a vida, muda... 
E um dia... O Sol Voltará a Nascer, para ser generoso contigo. 



L.

domingo, maio 26, 2013

Packing

Por vezes, é preciso fazer as malas, trancar gavetas, bater todas as portas dentro de nós e ficar de fora.
É preciso virar costas e ir embora.

quinta-feira, maio 23, 2013

Hoje, Apenas Hoje...

Hoje, resolvi escrever-te. 
Não espero que estas palavras sejam nada de especial, apenas que o seu valor o seja. 
Gostamos de palavras, temos jeito para elas... Gostamos de as ouvir, em silêncio, com música, entre risos, sorrisos. Gostamos sobretudo das que nos passeiam a mente...
Mas hoje, resolvi dar-lhes voz.
Sabes o quanto por vezes nos escondemos atrás delas?
As vezes que as usamos em nossa defesa...? E não são um escudo... 
Quantas vezes as usamos para ferir alguém? 
Não são espadas... Mas são capazes de rasgar almas... 
Sabes quantos laços fazemos e destruímos com elas?
O carinho que depositamos nelas? 
E o amor que se faz com elas, sabes?
Hoje, decidi abusar um pouco mais delas, e escrever-te.
Porque hoje, resolvi baixar a guarda... 
Hoje tenho as mãos vazias, mas o coração cheio. 
Hoje até a minha irmã de todos os dias decidiu deixar a porta do coração entreaberta... Até ela. 
E sabes, o Amor entrou... 
E o quanto que ela merecia? 
E o medo que ela tinha? 
Sim, ainda tem... 
Mas eu sonhava isto para ela. Há muito. 
É preciso derrubar as muralhas, deixar o sol brilhar.
Tenho o coração cheio.
E hoje... Sacudi os meus medos, mas não todos... 
E não só por isso, mas também, resolvi escrever-te, para te dizer que também eu tenho medo.
Mas ainda estou aqui.
Sempre fui mestre em fugir.
Sempre, que tive medo. "Muito Medo". Medo do que não sei... Nunca soube... Medo.
Mas o R. tem razão... Se nunca usarmos as palavras para enfrentar o Medo, nunca vamos saber. 
E como ele diria, todos temos medo de errar... Quem não tem?
Mas vale a pena arriscar. Deixar para trás a vergonha, o orgulho, porque no fim de contas, o que há a perder? 
Nada. 
Nunca ninguém perdeu em ser honesto. Transparente.
Nunca ninguém que não fosse digno de tal. 
Se abrir o coração nos faz mais pequenos? Não... É preciso ser-se enorme para o fazer.
Somos grandes, sobretudo na alma, e ambos temos mais de 1,60m de altura.
Amanhã não sei se o Sol nasce, se o meu coração não vai arrefecer de noite, se não vai mais uma vez acordar-me sobressaltado...
Mas por isso, hoje, Apenas Hoje, queria que soubesses  que ainda estou aqui.
Que não quero, nem espero, nem peço mais do que o que posso ter...
Mas mesmo assim, estou aqui.
De coração aberto.
Porque não abres o teu? De igual para igual. 
Não quero mais jogar, não quero ganhar nem perder... 
Por uma vez na vida, vou deixar valer o meio termo, o 50/50.
Não há nada a perder, mais do que nos perdermos de nós próprios.
Fala. Não és menos por isso. És Mais. 
Mais com Mais é sempre Mais. 
Menos com Menos, é sempre Mais... Silêncio. 
E estou cansada do nosso.
Não acredito que tenhamos esgotado as palavras. 
O silêncio pode ser onde as almas se encontram, para repousar, mas já nos cansamos?
Não acredito.
Como diria o R. apenas falta derrubar a barreira. Achas que conseguimos? 
Basta querer. Queres?
Então vem, porque hoje, apenas hoje, estou aqui. 
Amanhã, não sei.
Provavelmente, estarei. 


domingo, maio 19, 2013

Ponto Final.

Dizem que tudo o que tem um início tem um fim...
Como todo o Sol tem a Lua... 
Como todo o preto tem branco...
Todo o Inverno tem Verão...
Toda a vírgula tem um ponto final... 
E creio que o ponto final parágrafo aqui chegou... 

Há tanta coisa que fica, mas outra tanta se vai embora... 

Lida mal com as quedas...
Quando tropeça no tapete, tem tendência a levantar-se rapidamente, sacudir a roupa, olhar em redor. Ninguém reparou... Segue em frente.
Mas à medida que se afasta... Vai arrefecendo... A noite cai... 
Começa a sangrar... 
As mãos tornam-se pequenas para abraçar a dor... 
Mas é Orgulhosa. Com Maiúsculas... 
É incapaz de voltar atrás, pedir ajuda... 
Deita-se, resguarda-se em mantas de farrapos que lhe sobraram da alma, retira da cabeça a coroa feita de espinhos, que ela própria fez...
Tem o rosto lavado em lágrimas, mas adormece sabendo que os raios do Sol pela manhã vão ajudar a secá-las.
Amanhã será um desses dias, em que acorda com a cara, e como diria o Úria, com o lenço enxuto...
Esconde as feridas, que um dia serão cicatrizes...

Se perguntarem, dirá que foram acidentes de percurso... 
Já que..
No fim, acaba só ela... Como no começo...
Ponto Final


quinta-feira, maio 16, 2013

Aborto de Alma.


Nunca escondi de ninguém que sou a favor do aborto.
Sempre fui a favor de poupar o culto da dor aos condenados... 
Mas já pensaste, nem só numa placenta se geram vidas... Amores.
Quantas já não viram crescer vidas em si...? 
Amores...
Quantos saudáveis? Quantos, nem tanto? 
Quantos já não se arrependeram de o terem feito?
Quantos já não desejaram matá-lo?
Hoje, sou eu.
Estaria capaz de arrancar a ferros... 
Estaria capaz de fazer um aborto ao meu coração.
Nem sempre as crianças são perfeitas, porque é que o que saí do coração seria? 
Será dos genes? 
Não... 
É "filho" de um orgão imperfeito... Com vontade própria. 
Talvez do carácter mais teimoso que eu conheço...
Sei que nada se faz sozinho, mas neste caso, a minha vontade, e apenas a minha, matava-te... Dentro do meu coração.
Nunca desejei que nascesses dentro de mim... Não és desejado...
Já te fiz o funeral mil vezes na minha mente. 
E apesar de já ter perdido a conta às semanas em que te vais apoderando e crescendo dentro dele, dentro de mim, continuo a querer que pares de crescer... 
Melhor seria que "morresses" já... 
Quanto mais tarde... Pior será a minha dor.
Há seres que tiram cálcio, que enfraquecem cabelos... 
Tu tiras-me o discernimento... Roubas-me a Razão.
Porque de alguma forma, continuas a fazer-te sentir... 
Dás-me pontapés no coração, na alma... Lembras-me a cada hora que estás aí.
E como há mães que rejeitam bebés, também eu te rejeito...
...
Com medo que um dia te aceite...
Que te queira ver...
E o pior... Que aprenda a gostar de ti. 

quarta-feira, maio 15, 2013

Se apenas hoje eu fosse um poema...

"Não estejas longe de mim um dia que seja, porque,
porque, não sei dizê-lo, é longo o dia,
e estarei à tua espera como nas estações,
quando em algum sítio os comboios adormeceram.

Não te afastes uma hora porque então
nessa hora se juntam as gotas da insônia
e talvez o fumo que anda à procura de casa
venha matar ainda meu coração perdido.

Ai que não se quebra a tua silhueta na areia,
ai que na ausência as tuas pálpebras não voem:
não te vás por um minuto, ó bem-amada,

Porque nesse minuto terás ido tão longe
que atravessarei a terra inteira perguntando,
se voltarás ou me deixarás morrer."



[PN]

domingo, maio 12, 2013

Querer... Ou não.

Não gosto do que tira o equilíbrio.
Nem de cordas bambas.
Nunca fui trapezista... 
Não gosto do que me faz vacilar... Muito menos sem camas de elástico por baixo. 

Não gosto do que me tira a paz, a harmonia e o sono.


Não gosto que me tirem as sabrinas e me obriguem a fazer jogos de cintura em saltos altos, de onde tenho medo de cair...

Nunca fui de jogos. De tabuleiro... 
As cartas? Sempre as coloco nas mesa...
Lanço dados e sempre gostei de ter os meus trunfos.


Mas não também não gosto nem sei eu viver de outra forma...
Neste desassossego.
Acabei por me habituar a ele...


O Meu Mundo nao é Direito senão quando está virado ao contrário.
As palavras ganham formas, vidas, corpos... De forma irracional... Mas que fazem todo o sentido.
Não posso eu querer caminhar em linha recta se os meus chãos sempre tiveram pedras e curvas.
Não posso eu querer paz e sossego se procuro o que me desassossega.
Não posso eu querer ser uma pessoa de etiqueta se as teimo em cortar em tudo quanto as encontro.
Nao posso eu querer andar descalça se uso saltos altos na minha alma...
Como posso eu querer ter os pés no chão se só gosto de viver com eles nas nuvens.
Como posso eu querer segurar tudo, se tudo deixo cair num jeito destrambelhado.


Como posso eu querer dar-me à racionalidade se não consigo deixar de me entregar às emoções...


Como posso querer uma coisa que não quero?
Como posso eu deixar de querer? 

Será que quero? Hoje... Apenas queria.
Não ter de afogar... No sono em que me afogo todos os dias... 
Porque penso sempre, que ao acordar... Já não resta nada.... 
Mas resta sempre... 
Porque só dou a mão à Razão durante o dia... 
E o meu coração sempre me abraça, sufoca e adormece à noite... 

quarta-feira, maio 01, 2013

Despertador.

Um dia destes acordo para a vida.
De manhã. Ao mesmo tempo que acordo com o despertador.
Quero adormecer crendo que amanhã o ouço...
Esperando que toque mas que eu não continue a sonhar de olhos abertos.
Quero que ele toque, me desperte deste sono continuo de utopias que me alimentam sonhos famintos de nada.
Quero acordar... A tempo do primeiro comboio.
Do meu.
Quero largar este karma de perder comboios e saltar destes que não me levam a lugar algum. 

quinta-feira, abril 18, 2013

Falsos Diamantes.

É enquanto procuro o meu sono de olhos abertos na escuridão, que penso que gostava de me enganar mais com os falsos diamantes...
Gostava de me enganar a mim própria.
Mas eles sempre disseram que a perspicácia é a minha maior virtude. Tomara que não fosse.
Às vezes gostava de não ver tanto à frente.
Não estar tanto à frente.
Não conhecer tão bem almas que mal conheço.
Iludir-me mais.
Gostava de Esperar mais das pessoas.
Acreditar mais.
Mesmo que isso significasse sofrer. Mais.
Saber não é ausência de sofrimento. Porque não conseguimos evitar sofrer com a realidade crua. Que sabemos de antemão ser cruel mesmo.
Saber, por vezes, é não deixar que nasça, por saber que já tinha o dia da morte marcada.

domingo, abril 14, 2013

Shall We Dance?



Would you dance with me?
In the rain.
Until the morning rises.
Until we get tired.
Until we fall asleep. In the middle of the street. 
With the tears in the eyes.
With the mind full of dreams.
With the heart full of thoughts.
With our hands full of love.
With our bodys full of pleasure.
Could you?
Would you lie with me down here?
Right beside me...
Would you?....

domingo, abril 07, 2013

Letras

Não gosto de abrir mão do papel, das palavras, de folhear histórias...
Também eu tenho a minha.
Já vivi em contos de fadas. Tantas vezes a sonhar, tantas vezes acordada.
Já li livros de suspense... Já passei noites aterrada. Em folhas e ao vivo.
Mas sempre as narrei como elas foram... Como elas são.
Não sou escritora.
É mais do que juntar Letras e fazer palavras, formar frases, fazer estórias.
E a minha sou eu que a escrevo, que a dito, todos os dias.
A personagem principal sou Eu. Mas tantos"Eus" tenho Eu em mim.
Até que a minha Letra, por vezes, não  a reconheço.
Não sou mestre nem faço cerimónias...
Nunca gostei de rimas... Mas gosto de improvisos.
Nunca gostei de rascunhos... Nem de escrever a lápis.
Escrevo a caneta, preta, com tinta permanente, no meu Livro. Prefiro riscar, sujar com tinta as minhas mãos, do que arrancar páginas.
Já esqueci quantas páginas escrevi, quantas já virei... Mas orgulho-me de cada uma delas.
Um dia, sento-me e releio-me nelas, nas rugas das mãos e nas linhas dos sorrisos. E cada uma delas... Será minha, tanto quanto ontem, hoje, e amanhã... Palavra, que não retiro uma Letra. Especialmente a L, a minha.


domingo, março 31, 2013

Ballerinas.

No fim da noite, quando me descalço, e tiro as minhas ballerinas de salto alto, a sobriedade abraça-me. 
Vagueio em S's até à cama que sempre me despe de devaneios e me aconchega em sonhos. 
Fico sóbria enquanto durmo.
E quando pela manhã volto a calçar as minhas sabrinas que me fazem deambular entre a realidade deturpada e os sonhos malsinados, ou o oposto, volto a sentir-me "limpa" para mais um dia em que me vou embebedar pela doce confusão dos nossos dias. 
Saio de sorriso vestido mas de óculos escuros, que ajudam a equilibrar a claridade que me impõem. Claridade obscura. Demasiada, para os meus olhos pela manhã. 
Embriago-me com as palavras abusivas, com as exclamações sarcásticas, com as reticências infindas. E volto a abraçar o meu copo da vida, onde me encontro e me perco... 
Onde com tanto que bebo... Que brindo... Que afogo... Sou eu. 

terça-feira, março 26, 2013

quinta-feira, março 21, 2013

Copos cheios, corações vazios.

Durante tantos anos te critiquei, ainda critico... Pelo passado, sabes? 
Podia ter sido diferente... 
E o Presente também. Podia ser um presente.
Mas é sempre assim, quando apontamos algo em alguém, é quase apontar a nós mesmos. 
E também eu sou, errante, como tu...

Nunca pensei que fosse tão fácil de agarrar algo que nos deixasse mais longe de Nós.
Nem reparamos, não é? Quando damos conta, já estamos demasiado dentro... Ou demasiado fora. 
Demasiado longe. 
Afinal, torna tudo mais fácil... 
Agarramo-nos, pensando que estamos a dar a mão a alguém. Não é fácil?
É. Demasiado.

Ela está sempre ali. Não cobra nada. Nunca se fecha. Podes tu sempre apertar a tua mão em volta dela. 
Beijá-la. 
Ela nunca diz que não.
E a nossa mente agradece. No fim de contas, ela faz-te esquecer o que não queres lembrar... 
Traz para perto quem a vida levou para longe...
Torna as memórias passadas mais vivas...
E o melhor de tudo... 
É que não faz perguntas. Só dá respostas. As que queremos ouvir... 

E agora? 

Agora, vais mais uma vez pôr uma vírgula na vossa relação... 
Sim, porque não acredito em pontos finais nessa tua história com ela... 
Já usaste tantos pontos... Agora são reticências... Sugerem sempre algo mais. E eu nem percebo muito de pontuação.
Ainda acreditas haver esperança para ti? 
Eu não... 
Já não.
Nunca mais. E contigo, nunca, não é demasiado tempo. 
Não acredito porque para ti... Nada mais vale do que ela. 
É mais forte que tu... 
À mínima fraqueza... Tu rastejas atrás... 
Não sabes dizer "não"... 
Não sabes que dizeres "sim" a ela, é dizer NÃO a ti próprio... 
Não sabes... Não consegues... 
Tens por ela um amor maior do que o teu primeiro... 
E mesmo o meu... Por ti... Não consegue ser maior que esse teu vício... 
Vício que te destrói... Mata, aos poucos. 
E eu estou a assistir de pé a essa destruição. Todos os dias... Meses. Anos. 
Já não me lembro há quantos. Tantos, não são?
Vou-me despedindo de ti todos os dias um pouco mais... 
Qualquer dia abro mão de ti... 
Até da pena que tenho de ti... 
Pouco sobrou além disso... 
Mas ainda não é amanhã... Que desisto de ti.
Amanhã eu vou estar lá... Para te ver travar mais uma luta... Que sei de antemão estar perdida...
Ainda te vou apoiar...
E entre drogas... Falta de fé... Amores perdidos... Penas... Dependências... 
Não deixas de ser quem és... 
Errante... 
Como eu... 
Mas ainda assim, um dos seres que me deu vida.
E um dos seres que me leva para mais perto da morte... A da alma. 
Porque há dias... Que o que bebes... Me seca por completo. A alma. 
O coração. Ou o que resta dele. 
Me embebeba de dor. 
Tens o copo cheio. E o coração vazio. 

sábado, março 16, 2013

Kiwis.

Há pessoas que são como os Kiwis.
Feias.
Peludas.
Castanhas.
Sem forma.
Já descascaram um Kiwi?
Há difíceis. E há fáceis.
Alguns maduros... Outros verdes.
Há Kiwis que nunca amadurecem e outros podres de maduros.
Kiwis impenetráveis e de comer à colher.

Um kiwi pode ser muito. Pouco. Nada.

Mas tira-lhe a casca. 




O seu interior é quase sempre bonito... Com sorte até é doce.

E como os kiwis, há pessoas que guardam o melhor de si debaixo da casca.
Há Kiwis doces... E os que acham que "só podes 'tar a brincar", "ca nojo" se verbalizas isso.
Há aqueles que tem casca porque é da sua natureza, e os que a agarram mais quando a puxas.
Não porque gostem de se esconder... Mas porque acham que o podes banalizar... Igualar aos demais, quando vês que afinal, todos tem um pouco de "verde" em si.

E depois...
Há Kiwis que são a outra metade da Laranja.






sexta-feira, março 08, 2013

Próxima Paragem.

Vemos todos os dias as mesmas caras no comboio... Ou não tanto. 
Caras de pessoas... De seres vivos, outros não tanto. Caras cheias de sono, rostos cheios de tristeza... Olhos cheios de nada. 
Crianças... Carregam mochilas como quem carrega o seu futuro. O mundo. Cheio de conhecimento ou cheio de nada. 
Não os conheces. Mas já fazem parte da tua viagem. 
Partilhas o teu lugar ao lado com alguém que não conheces, não sabes nada sobre, mas já estão na mesma viagem. 
Ambos olham na mesma direcção, pela mesma janela. Mas não sabes de nada. 
Aproxima-se a hora de sair. 
Não dizes nada. 
Sais. 
Podes ver estes rostos amanhã ou não. Mas sais... 

E como dizem os senhores da CP, "A próxima paragem vai mudar a sua vida."

segunda-feira, março 04, 2013

Hoje. Estou-me nas tintas, hoje.

"Como estás?"
Dei-lhe meio sorriso dizendo "Não sinto falta de nada."
Se calhar sinto.
Falta do meio copo de vinho e das minhas músicas no sofá. Porque agora só tenho o chão da sala. O meu.
Mas não sinto falta de mim.
Encontro-me todos os dias no espelho. No make-up. Em mim, ou na minha vida.
Cortei as amarras. E se existem olheiras, é porque também a dormir tenho os olhos abertos.
Sou Eu a full-time. Não passo facturas, mas sou contribuinte. Na minha felicidade, e na dos que gosto. Não faço descontos. Faço horas extras a sonhar.
De olhos fechados, de olhos abertos.
Porque como diria o JP Simões, "Todos sabemos como é que isto acaba".

E hoje?
Estou-me nas tintas hoje.



segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Hoje, o Mar Sou Eu.


Dizem que todos fazemos um luto quando alguém parte da nossa vida, física e emocionalmente... Ou às vezes só a segunda.

Quando alguém adormece para a eternidade, fazemos o funeral, choramos, vestimos o preto... Com a certeza que essa pessoa viverá para sempre do nosso lado.
Contudo, há pessoas que estão vivas e já morreram no nosso coração... 
Tentamos deitar todas as memórias ao vento, mas o vento é incerto... Às vezes sopra na direcção errada. Quantas vezes já não te virou o guarda-chuva?
Mas isso não nos impede de apertar o casaco ainda com mais força, e ainda que com varetas partidas, continuemos a caminhar em frente. Ainda que o vento seja gelado, que nos faça perder lágrimas de violento que é para os olhos, apertamos mais a mão no nosso "guarda-chuva". Sem largar. Nunca.
Porque o vento, é incerto. 

Já o Mar...
O Mar quando enraivecido não deixa de ser o que é. Não deixa a sua beleza. Não deixa de se desfazer e levantar. Não deixa de fugir e regressar. Não deixa de perder, mas ganhar. De manhã é baixo, de tarde é alto. 

E hoje, "O Mar Sou Eu". 


terça-feira, fevereiro 12, 2013

Adeus.

Sabes que nunca dissemos "Adeus". Não gostava da palavra. Nunca gostei. Dizia "Até amanhã", e recebia um "Se Deus Quiser".
Ontem foi diferente.
E hoje vou dormir com a minha vida mais vazia... Com a minha alma mais incompleta... Com o coração esmagado, pelo teu Adeus...

Adeus Avó.

Ou até Sempre... Porque Sempre, não é demasiado tempo.

domingo, fevereiro 10, 2013

Perda de tempo.

Não gosto de ver quem gosto a perder tempo...
Das mais variadas formas.

Não gosto de ver quem perde tempo a tentar fazer um relógio voltar ao passado...
Não gosto de quem fica parado à espera dum passado que não volta, dum futuro que não chega, daquele que nunca vem.
Não gosto de quem se deixa congelar pelo orgulho. De quem perde tempo a adiar o inadiável. De quem perde tempo de vida com mágoas e ressentimentos.
Não gosto de quem não sabe imortalizar momentos no seu coração, de quem não vira a mesa, de quem não atira coisas para o chão, de quem não muda de trabalho, de quem não vive o seu tempo, de quem não conhece o perdão.

Gosto de quem abre o coração, de quem ama de paixão, de quem não tenta esconder o melhor de si, de quem sorri de coração aberto... De quem estende a sua mão.
Gosto de quem despeja a sua alma, em palavras, em gestos, em atitudes.
Gosto de quem come com a mão, de quem canta a desafinar, de quem tem o mundo na palma da mão...

Algumas almas protegem-se demasiadamente.
Do Amanhã, do Amor, da Dor, da sua própria Mente.

Vale a pena viver desse jeito?
Não vale, certamente.

quarta-feira, janeiro 30, 2013

terça-feira, janeiro 29, 2013

Se por apenas hoje, eu fosse um poema...

"Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.

Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.

Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.

Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.

Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.

Adeus."


Eugénio de Andrade