Hoje vou adormecer pensando que o MM tinha razão.
A parte mais difícil não é fazer malas, não é bater portas, nem tão pouco ir embora...
A parte difícil?
É não olhar para trás.
É colar os olhos na frente...
Levantar o queixo...
É contrariar a tendência de olhar o vazio e recordar em flashes de memória o que costumava estar naquele lugar...
É esse vazio que mata, que dói e enlouquece...
Outras vezes, nem é o vazio...
São as sombras no vazio. As que ficam.
As que dançam pelas paredes, e correm na sombra.
Umas vezes uns passos à frente, outras, uns atrás, nas memórias.
Outras como se estivessem lado a lado com a saudade.
E elas chamam por nós.
Chamam pelo nome.
E amarram-nos pelo coração.
Consegues não olhar quando dizem o teu nome?
Consegues ficar indiferente?
E quando ouves o eco da tua própria voz quando o pronuncias o teu nome?...
Sabes o quanto custa fingir?...
Não ouvir...
Não reconhecer...
Fingir que nem sequer importa?...
Custa...
Custa tanto como as palavras que eu gostava de dizer e não posso...
O orgulho que eu gostava de engolir e não consigo...
As saudades que eu não queria sentir e cultivo.
O carinho que eu não queria brotar e continua a crescer.
O silêncio que eu queria quebrar e alimento...
Os juízos de valor que eu abomino e faço sem querer.
As memórias que eu queria apagar e sublinho.
O que eu procuro esquecer e só me encontro quando recordo...
O que eu queria abraçar e afasto...
O que eu queria dizer e escrevo...
O que eu queria escrever e afogo...
Os sonhos que eu queria sonhar...
E os que eu queria viver...
O que eu queria ouvir...
O que eu queria ver e quase cego...
O que eu queria mostrar e escondo...
O que eu queria dormir, e nunca consigo adormecer.
Porque não há melodias que não embalem sentimentos, que não despertem emoções, e que não sussurrem "boa noite" como quem chama por mim.